Dietas Restritivas

Não há extremismo capaz de construir o equilíbrio. Muito menos quando o papo é alimentação. Por isto, não acredito e não aplico nenhum tipo de dieta restritiva. A não ser quando há uma real necessidade devido a alguma patologia e, ainda assim, quando necessário acho extremamente importante ponderar o tamanho desta restrição.

Existe uma máxima muito forte, mas muito verdadeira, sempre citada pela mestre em Nutrição Comportamental, a nutricionista Sophie Deram: “nem toda pessoa que passa por restrição alimentar desenvolve um transtorno alimentar, mas quase todos que têm transtorno alimentar passaram por alguma dieta de restrição”. O paciente pode até conseguir levar este tipo de dieta por algum tempo, mas logo ele perceberá as limitações em sua rotina, em seu convívio social e na vida prática. Pior ainda: por não saber quanto tempo levará para perder o peso desejado ele não tem uma estimativa da duração desta mudança. Este é um gatilho para desencadear a ansiedade do paciente: por quanto tempo ele sofrerá com tudo aquilo?

Nesta situação, é nítida a necessidade de olhar com cuidado para todo protocolo adotado. É nosso trabalho esculpir as escolhas alimentares de nosso paciente e esta é uma atividade que demanda tempo, aceitação e disposição de ambos os lados: paciente e profissional. Uma alimentação altamente restrita leva a uma angústia, por conseguinte, o corpo entra em fome oculta e por final ele passa a ter necessidade de alimentos capazes de saciar sua “fome emocional”. E quais são eles? Alimentos que liberam dopamina como por exemplo: o açúcar e a gordura trans, encontrados em quase todos os alimentos processados. Depois de consumir muito açúcar vem a culpa e o desejo de fazer uma dieta ainda mais restritiva para compensar o primeiro deslize. E isto vira uma bola de neve chamada desequilíbrio emocional somado à compulsão alimentar.

A dieta restritiva se caracteriza de três maneiras: restrição por período, por quantidade de alimento ou retirada de alimentos chaves para aquele paciente. É preciso ter tempo estipulado para a diminuição de alguma restrição. É importante prestar atenção na quantidade suficiente de alimento a ser dado ao seu paciente para nunca, em situação alguma, deixá-lo com fome; e cuidado para não tirar tudo o que lhe traz satisfação e prazer. Manter o conforto psicológico é manter a saudabilidade mental e equilíbrio emocional, algo de extrema importância.

Há ainda uma alta expectativa do próprio nutricionista em mudar radicalmente a química da dieta para o alcance dos resultados esperados, seja para emagrecimento, seja para modular alguma cascata metabólica. Desta maneira, ele muda radicalmente o perfil da alimentação do indivíduo: troca a pizza com refrigerante e bombons por tapioca com queijo branco, suco de laranja e frutas com canela. Assim: da noite para o dia! Não, isto não vai funcionar. A palatabilidade  é extremamente oposta e fará com que a pessoa tenha um choque tão grande que de maneira alguma ela aderirá ao tratamento. Ele pode até se empolgar nos primeiros dias e manter a dieta por um ou dois meses, mas passada a empolgação, esta situação não se sustenta levando a mais uma frustração. Por isto, mais uma vez: é importante esculpir este paladar e mudar aos poucos as características alimentares do paciente. Troque um dos itens e espere ele se adaptar ao ponto de sentir desejo e satisfação ao estar consumindo aquele item para, naturalmente e aos poucos, ele aderir a uma nova maneira de se alimentar.

Minhas diretrizes são:

  • uma boa leitura do paciente e suas necessidades alimentares prezando informações que vão além dos nutrientes;
  • traçar uma dieta na qual algumas predileções alimentares se mantenham e outras sejam periodicamente substituídas;
  • ensinar o paciente a identificar o que é fome e o que é apetite;
  • nunca oferecer uma alimentação que deixe o paciente passar fome e sempre se atentar à sua saciedade, ou seja, o adequado aporte de proteínas é importante para esta saciedade, bem como manutenção dela;
  • alternar as restrições sempre oferecendo conforto emocional ao paciente;
  • paciência e parcimônia de ambas as partes: nutricionista e paciente.

E, como última dica: a falta de serotonina também leva à falta de saciedade. Alimentos ricos em triptofano são essenciais para síntese da serotonina e podem ser uma ótima manobra para pessoas que entram em processo de dietas diferentes das consumidas em suas rotinas. Dica da dica: para que o triptofano chegue a ser uma serotonina vamos precisar de seus cofatores, Ferro e Vitamina B6, bem como  Vitamina D e Ômega 3, além de uma microbiota saudável. Fiquem de olho em todos estes passos.

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