O que o estresse a longo prazo pode causar?

Visto de forma negativa, o estresse leva uma má fama injustamente. Este estado emocional é responsável por manter nossa espécie viva até hoje. O cortisol liberado nos momentos de estresse é uma resposta natural de nosso organismo às situações de risco, ou seja, de sobrevivência. O que não é normal é nos sentirmos estressados constantemente, dia após dia, hora após hora. Aí sim, o estresse pode passar a ser um vilão, mas por descontrole nosso, e não pela natureza dele.

Logo, o estresse agudo é nosso amigo. O estresse crônico não. Vou discorrer aqui sobre alguns pontos negativos e suas consequências em nosso organismo para que possamos desenvolver pensamentos funcionais quando encontrarmos alguns sintomas e quisermos relacionar com suas causas.

O ovo ou a galinha: quem vem antes, o estresse ou o cortisol? O estresse. A liberação do cortisol é uma consequência do estresse. E esta não é uma informação tão óbvia e que precisa ficar registrada para melhor entendimento do contexto geral.

Estresse x diabetes: como o estresse é um alerta para o organismo de que ele precisa colaborar para uma possível reação ao perigo, ele pede por energia. O cortisol, hormônio liberado quando há uma situação de risco, provocando a gliconeogênese. Em um corpo saudável, rapidamente entra em ação a insulina para levar este açúcar à célula e completar o ciclo. Feito uma vez ou esporadicamente, está tudo certo. Feito repetidas vezes, por anos, o pâncreas pode gradativamente diminuir sua produção de insulina, no que chamamos de Diabetes Mellitus tipo 2.

Estresse x pressão alta: mais uma vez em ação, o cortisol estimula a liberação de noradrenalina para fazer com que se mantenha o tônus vascular, aumentando a pressão, e o coração bata mais rápido suportando assim uma ação mais brusca e acelerada do organismo que está tentando se defender de algum perigo. Com a contínua ativação desta via, o coração estará sobrecarregado e sujeito a um desgaste prematuro. Além disto, o cortisol estimula a retenção de Sódio, outro causador de aumento de pressão.

Estresse x aumento de peso: Mito. O que o estresse causa é uma translocação de gordura de um local do corpo para a região abdominal. E isto acontece porque o cortisol, hormônio liberado devido ao estresse, tem a capacidade de ir até o núcleo das células e aumentar a produção de uma enzima chamada Lipase Hormônio Sensível (LHS). Esta enzima, por sua vez, quando estimulada pela adrenalina, tem como função fazer a quebra de triglicérides, na chamada lipólise. Acontece que se o indivíduo for estressado ele terá um significativo aumento de LHS em sua célula e toda vez que ele sofrer a ação da adrenalina esta adrenalina entrará em contato com toda a LHS altamente produzida que quebrarão muito mais triglicérides do que o normal. Estes triglicérides serão liberados na corrente sanguínea e se não utilizados para geração de energia serão depositados na região abdominal ou glúteo-femural. Tais ácidos graxos são depositados nesta região pois são os locais do organismo que possuem maior taxa de LPL (lipoproteína lipase), os receptores para captação celular de ácidos graxos sanguíneos.

Estresse x perda de massa magra: Fato. Como citado acima, em sua causa original o estresse demanda energia do corpo. Logo, o cortisol degrada a massa magra, ou seja, proteínas do músculo para fazer gliconeogênese. Sendo assim, um paciente estressado tem grandes dificuldades de em acumular massa magra, no que chamamos de hipertrofia muscular, mesmo treinando e se alimentando adequadamente.

Importante: este processo também acontece quando o indivíduo faz jejum prolongado pois o corpo também passa a entender que ele está necessitando de energia e passa a degradar massa magra. Este processo só cessa depois de cerca de 7 dias quando o organismo passa a usar, consideravelmente, os corpos cetônicos como fonte de energia.

Estresse x flacidez: Sim, é verdade. Se o cortisol também degrada aminoácidos ele deixa menos matéria prima para a formação de colágeno. Para agravar a situação, o cortisol também degrada o colágeno colaborando para a formação daquela pele envelhecida, o aparecimento de estrias profundas, além de rugas.

Estresse x testosterona: o cortisol e a testosterona são, ambos, produzidos a partir do colesterol. Em situação de estresse o cortisol acaba gastando grande parte do colesterol deixando muito pouco para produção de testosterona. Para equilibrar esta privação, o organismo tem uma saída estratégica que é produzir, por meio da enzima 5-alfa-redutase, a Dihidro-testosterona (DHT) que é um hormônio similar à testosterona mas com ação 10 vezes mais potente. Esta potência exacerbada provoca uma oleosidade extrema na pele e síndrome no ovário policístico (SOP) nas mulheres.

Ao que se refere a micronutrientes, o Zinco também é cofator de formação do cortisol e da testosterona. Pessoas estressadas têm o Zinco desviado para formação de cortisol e deixa a desejar o volume necessário para produção de testosterona. Uma das consequências disto tudo é a falta da libido: uma característica comum a pessoas estressadas.

O estresse crônico, definitivamente, não é um bom negócio e apresenta os mesmos sintomas causados pelo uso excessivo de corticoides. O melhor caminho é optar por uma vida mais centrada, tranquila, com práticas meditativas e esportivas. O equilíbrio emocional certamente é o melhor remédio para evitar todas estas situações.

 

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